No português brasileiro, a sílaba mais frequente nas palavras, também conhecida como "sílaba canônica", é aquela constituída por uma consoante e uma vogal, formando, nesta ordem, a sílaba CV que ocorre, por exemplo, nas palavras como girafa, galo, mala e mata. (dar destaque). Antes mesmo do início do processo de alfabetização e letramento, as crianças já conseguem perceber a estrutura CV na fala.
Em nossa língua materna existem, contudo, outras combinações silábicas que podem ser constituídas, por exemplo, "apenas de vogal", "de uma ou duas consoantes pré-vocálicas" e "de uma ou duas consoantes pós-vocálicas." (SILVA, 1999, p. 152 apud SOARES, 2017, p. 310). Muitos estudos mostram que, na fala, "há uma ordem obedecida pelas crianças relativamente à aquisição do padrão silábico, e são unânimes em atestar a seguinte sequência; CV, V >> CVV >> CVC >> CCV, CCVC". (MIRANDA, 2009b, p. 413 apud SOARES, 2017 p. 314).
Quando voltamos nosso olhar para a aprendizagem da escrita, Soares (2017) evidencia que essa aprendizagem parece acontecer, pelas crianças, de modo semelhante. Dessa forma, antes mesmo de se tornarem alfabéticas, ainda na hipótese silábico-alfabético as crianças "demonstram dominar rapidamente, na escrita, as estruturas silábicas do tipo CV" e, posteriormente, enfrentam situações em que "não conseguem resolver, na escrita, o problema da correta representação dos segmentos que ocupam posições nas sílabas com estrutura mais complexa do que CV." (ABAURRE, 1999, p. 175 apud SOARES, 2017, p. 314).
Quando pensamos na ordem de aquisição dos padrões silábicos na aprendizagem da escrita, Soares (2017, p. 314) nos esclarece que pouco se sabe, "já que parece não haver pesquisas longitudinais com o objetivos de identificar essa ordem". Entretanto, a pesquisadora, analisando os dados de pesquisas desenvolvidos sem esse objetivo e também práticas de alfabetização, confirma que, de certa forma, a aprendizagem da escrita ocorre em "ordem semelhante à identificada na aquisição da linguagem". (idem, p. 314).
Assim, "atingida a fase alfabética, e dominando o padrão CV, a estrutura silábica V logo aparece na escrita da criança, que aceita a possibilidade de existir sílaba constituída de um só segmento, o padrão V, e não erra em palavras como abacaxi, uva, ovo, provavelmente pela facilidade de identificação do fonema vogal. Com pouca orientação fonografêmica, aceita logo também a possibilidade de sílaba VC, como um ladrão que inverte a ordem dos segmentos da sílaba canônica. [...] São os padrões silábicos complexos que desafiam a criança, aqueles em que ao padrão canônico CV se acrescenta um segmento consonantal pré-vocálico - padrão CCV - ou pós-vocálico - padrão CVC". (SOARES, 2017, p. 315).
Referência:
SOARES, Magda. Alfabetização: a questão dos métodos. São Paulo: Editora Contexto, 2017. 1. ed. p. 310-315.