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Por que a escrita alfabética não é um código?

A caracterização do sistema de escrita alfabética como um código é talvez a mais comum, e em decorrência disso, frequentemente, se associa à escrita o verbo codificar e a leitura o verbo decodificar. Diante dessa caracterização, muitos pesquisadores, tanto no exterior como no Brasil, acreditam que “para se alfabetizar a criança precisa compreender o princípio alfabético, o que, para eles, significaria compreender que as letras substituem fonemas”. (MORAIS, 2019, p. 15).

Essa concepção, entretanto, tem sido apontada por muitos estudiosos como imprópria na forma como concebem a escrita alfabética, seu aprendizado e, consequentemente, seu ensino. Nesse sentido, Morais (2019, p. 15) defende que reduzir a escrita alfabética a um código revela duas limitações na medida em que “simplifica a análise do complexo trabalho conceitual construído/vivenciado pelo aprendiz e adota uma visão adultocêntrica sobre como a criança aprende o alfabeto”.

Podemos esclarecer essas colocações ao analisar o exemplo disposto no PNAIC (BRASIL, 2012) de uma situação que ocorreu em uma turma do terceiro ano dos Anos Iniciais. Em uma dia de aula, João e Maria, estudantes que já estavam alfabetizados e, consequentemente, liam e produziram pequenos textos com autonomia, após terminarem uma atividade antes dos outros colegas de sala começaram a se comunicar por meio de símbolos, com cartas enigmáticas. Esse código foi elaborado por Maria, tal como o que aparece na figura abaixo, para que ela e seu colega João pudessem brincar de escrever mensagens secretas, que só eles conseguiriam ler, porque só eles sabiam o valor de cada símbolo do código.

Figura extraída de Brasil (2012, p. 08).


Nessa situação podemos analisar que as crianças estavam, de fato, conversando ao memorizar as formas dos símbolos e substituí-las, no papel, pelas letras correspondentes do alfabeto. No entanto, isso só aconteceu porque as crianças já estavam alfabetizadas e foram capazes de incorporar, nessa situação, conhecimentos sobre as propriedades do sistema de notação alfabética de que não dispunham antes de estarem alfabetizadas (MORAIS, 2019).

Para uma criança que ainda não está alfabetizada, dominar a escrita alfabética é um processo bem mais complexo, que não se reduz a uma identificação de fonemas e à memorização das letras na escrita. Nesse processo, a criança precisa, segundo Morais (2019, p. 16), “vivenciar a mudança de esquemas mentais que construiu sobre a escrita, através de um processo que, paulatinamente, leva à compreensão das propriedades do alfabeto, passando por uma sequência de etapas evolutivas tal como demonstram Ferreiro e Teberosky (1979)”.


Referências:

BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Pacto nacional pela alfabetização na idade certa: a aprendizagem do sistema de escrita alfabética. Unidade 3 / Ano 1. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Brasília: MEC, SEB, 2012, p. 07-11. Disponível em: https://wp.ufpel.edu.br/obeducpacto/files/2019/08/Unidade-1.pdf.


MORAIS, Artur Gomes de. Consciência fonológica na educação infantil e no ciclo de alfabetização. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019. 1. ed. p. 15.

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